sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Oi, tio - oitavo capítulo

Camisa social, camiseta, aquela da seleção, ou a xadrez? Casaco de lã, jaqueta, abrigo? Tênis ou sapato? Só sussurrou.

- Cacete!

É lógico que Herón estava em dúvida. Nunca havia feito um filme pornô na vida. E agora não sabia nem a roupa que ia usar. Na prática, não ia usar nada. Então camiseta básica, calça jeans e um daqueles sapatos tipo West Coast. Simples. Só um moleton por cima do ombro, pra caso esfriasse. Se vestiu com a luz apagada. Ao sair do quarto, quando os primeiros raios de sol tocavam a janela de seu quarto, ele olha Ângela coberta pelo edredom, apenas com a cabeça aparecendo, repousada sobre um travesseiro alto. Ele olha friamente, pois mesmo que tentasse, não conseguia nutrir nenhum sentimento por ela nos últimos tempos.

Resolveu tirar os sapatos e só pôr quando chegar lá embaixo, na garagem. O quarto de Maria Eduarda ainda era um obstáculo, pois a porta de madeira não se fechava. Sem fazer um barulho sequer, cruzou o corredor e desceu as escadas. O único barulho que fizera foi quando deixou escorregar das mãos suadas de nervosismo a chave do carro. Com o controle remoto, abriu o portão móvel e apenas soltou o freio-de-mão, fazendo com que o carro descesse sutilmente até a rua.
***

Antes mesmo da hora do despertador tocar, o telefone de Sophia já fazia o silêncio de seu quarto morrer. Uma mensagem. De Herón.

***

Maria Eduarda escuta um barulho, um rangido de porta, e logo se põe de pé. Já tinha tudo planejado em mente. Colocou uma roupa e novamente deitou na cama, tapando-se. Estava amanhecendo. Ela olha só relógio do celular: 7:06. Achou cedo demais para a gravação de um filme, ainda mais pornô. Escuta um barulho de carro na rua. O coração bate mais forte. Tinha perdido a chance? Não se perdoaria. Jamais.
Ficou em silêncio sob seu cobertor, quando ouviu outro ruído. Esperou uma conversa, ou algo que mostrasse que seu pai ainda estava em casa. Nada.

Depois de alguns minutos de puro silêncio, ela enfim ouve um barulho quase inaudível da porta do quarto ao lado se fechando. Acompanha pela fresta da porta uma sombra que se aproxima. Ela pára no meio do caminho, faz um estranho movimento, depois volta a caminhar. No mais absoluto silêncio, a sombra passa na frente do quarto e desce as escadas O sol já está alto quando Maria Eduarda escuta a porta do carro de Herón se fechar.

Ao dobrar a esquina, Maria Eduarda sai correndo pela calçada, com o coração saindo pela boca. Ela não pode perder Herón de vista. Um sonolento taxista, o único no ponto, acorda assustado ao ver aquela garota tão cedo na rua, e batendo furiosamente em seu vidro.
***
- Oi, tio.
- Oi, como tá bonita.

Herón vira-se para, ingênuo, beijar Sophia no rosto, mas ela se antecipa e o beija avidamente na boca. Com a mesma intensidade, ela o larga, se afunda no banco do carona e sorri.

- Tá esperando o que? A gente tem horário marcado lá.

Sophia nem termina de falar, quando um taxi passa por eles. Herón olha preocupado para o carro, mas vê somente o taxista, e nenhum passageiro.

***

- Pode se levantar.

Eduarda, que estava deitada no banco traseiro, ergue-se e questiona.

- Por que isso? O senhor não tá fazendo do jeito que combinamos.
- Calma, guria. Nisso eu sou macaco velho. A melhor forma de tu seguir alguém é indo na frente dela, e não atrás. Aprendi isso com tantos detetives que já passaram por esse carro. Ainda bem que tu sabe onde teu pai ta indo, se não íamos ter que inventar outra coisa. Mas é bom deixar eles entrarem primeiro.
***

- Bom dia. Seus nomes, por favor?
- Bom dia. Pablo e Jeniffer.
- Jeniffer?
- Sim, com jota, um ene e dois efes.
- Ah, gravação de documentário, né?
- Isso mesmo.
- Pode passar.

A cancela se abre e Herón e Sophia entram na universidade.

- Tu não tinha outro nome pra me dar, guria?
- Ué, não gostou?
- Não. E porque Pablo?
- Por nada, ué!
***
Logo em seguida, um taxi pára na entrada da universidade.

- Não quero me meter nessa história, guria. Parei aqui.
- Ta bom. Ó. Fica com o troco.

Maria Eduarda sobe correndo as escadas que acabarão na guarita de segurança.

- Bom dia. Seu nome, por gentileza?
- Ahnn...
- Seu nome, moça.
- Sophia.
- Uhum. Com efe?
- Não. Com pê agá.
- Não tá aqui.
- Ah...vim pra gravação.
- Ok. Pode passar.

Sentindo seu coração sair pulando pela boca, Maria Eduarda procura se manter calma ao atravessar o pátio da universidade. Mas o nervosismo é mais forte que isso.
***
- Estúdio de TV.
- Segurança. Pablo, Jeniffer e Sophia estão subindo pra gravação do documentário.
- Como assim? 3 pessoas?
- Sim. Pablo, Jeniffer e Sophia. Porquê?
- Nada não.

Um comentário:

Frodo disse...

ca-ra-lho!!!

ficou duca velho! muito bom, seu demente!!