segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Oi, tio! - terceiro capítulo

Havia pouca coisa escrita naquele naco de papel.

Só uma linha.

Um endereço de e-mail.

Dela.

Da Sophia.

***

Se aquela manhã chuvosa havia passado devagar, a tarde estava se movendo aos arrastos. Repousado em pé entre as teclas do teclado do computador do escritório, aquele canto de folha de caderno criava cada vez mais interrogações na mente de Herón, todas ainda sem resposta. Porque aquele pedaço de papel havia chegado até ele? Foi por engano? Ou ela teria feito de propósito? E, se fosse de caso pensado, por quê? E o que ele deveria fazer? Entrar em contato? Tudo isso girava em torno de Sophia, uma garotinha que sabe-se lá quantos anos tinha, mas que tirara a tranqüilidade da cabeça daquele homem que já não esperava nada de interessante da vida e do mundo.

Herón suspirou fundo e tentou se acalmar. Abriu sua pasta, tirou seu pen-drive de dentro dela e o inseriu no computador. Procurou o arquivo desejado e o abriu. Dois minutos depois, quando já estava bastante concentrado no filme pornô que assistia, o celular toca. Uma mensagem. Era a Ângela. “Vem me buscar? Bjo. Te amo”. Sussurrando um palavrão, ele se vê obrigado a assistir a loirinha de 16 anos e seus dois amigos em outro momento.

Naquele fim de tarde de inverno, a chuva ficara mais intensa, fazendo Herón ficar preso em um extenso engarrafamento na Plínio Brasil Milano. Sem pressa, ele aumenta o som do carro pra se distrair, mas o tiro saiu pela culatra, mais precisamente quando a voz de Renato e Seus Blue Caps soou “Oh, minha menina, faça-me um favor! Larga essa boneca e vem brincar de amor!”. Ele desliga o rádio e guarda o papel amassado no bolso interno do casaco.

Saiu do supermercado em silêncio, ouvindo todas as coisas inúteis que Ângela havia feito no dia. Resolveu ligar o rádio novamente, e agora Bob Dylan fora seu amigo em Like A Rolling Stone. Não ouviu ela falar que havia reencontrado uma amiga da época da faculdade, nem que reservara uma suíte em Bariloche para ir nas férias de julho. Ficou absorto entre as músicas até chegar em casa.

Depois de recolher as compras, Herón saiu da cozinha sem escalas, direto para seu quarto. No meio do caminho, apenas ouviu Ângela falar à distância com Maria Eduarda, que nem fizera o trabalho de sair do quarto. Ele ia entrar para conversar um pouco, mas como a porta estava fechada, resolveu mudar de idéia.

Herón esperou a esposa ligar o chuveiro para pôr em prática a decisão que já havia tomado no caminho da vinda: pegou o casaco e tirou o papel rasgado do bolso. Abriu seu notebook sobre a cama e resolveu mandar o maldito e-mail. Ficou em dúvida no que poderia escrever, mas apenas teclou “Oi. Quem é?”. “Vou me fazer de louco”, pensou.

Não completaram 2 minutos, o e-mail foi respondido. Um arrepio na espinha caracterizou seu nervosismo. Ele resolveu abrir e ler. Assim foi a resposta quase não decifrada:

Soapksopakaopskaosapka
U tiu eh mtu bobaum
Pensei q ia me egnorar
Me add. To on.
Bjokas! S2

***

Enquanto isso, no quarto ao lado, Maria Eduarda estava deitada na cama, falando no celular com seu ficante. Ao mesmo tempo, a poucos passos dela, Sophia estava no computador da amiga com um sorriso malicioso nos lábios.

2 comentários:

Nynanski disse...

GZUZ, tá ficando nervosa essa história!

Esperando a continuação.
Beeeijos :*

Gabriel Rymsza disse...

Mazaaa meu guri! Tá ficando bom...