terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Oi, tio - quinto capítulo

- Guria, tu é louca!!!
- Louca por que, ué?!
- Por que sim! Olha a merda que tu quer fazer!
- Ah, por favor! Eu que quero fazer! Me deixa! Tá parecendo a minha mãe!
- Tá, e quem é o cara?
- Ahn?
- O cara. Tu conhece ele?
- Conheço até.
- “Até”?! Sophia, quem ele é? Isso é furada, certo!
- Eu conheço?
- Mais do que eu.
- Me diz quem é, guria!
- Ahh...é o Pablo!

Maria Eduarda treme dos pés a cabeça quando ouve este nome. Pablo é o nome do motorista da van que levava Maria Eduarda e Sophia para a escola até o ano passado, e com ele Eduarda tivera sua primeira relação sexual, dentro do próprio veículo. Este caso não seria tão fora do comum se Pablo não tivesse 40 anos. A diferença de idade e a experiência sempre foram motivo da atração de Eduarda por homens desta faixa de idade. Logo depois do acontecimento, as duas amigas deixaram o transporte particular de lado, indo de outras formas para a aula.

- Tu não fala mais o nome dele!
- Tá, amiga...
- E quando é isso?
- Depois de amanhã.
***

Na manhã seguinte, num sábado frio e ensolarado de inverno, Herón abria seus e-mails tomando café-da-manhã sozinho na varanda de casa. Ângela ainda adormecia cansada após uma noite exaustiva de sexo com seu marido. Estava tranquilo até ele abrir um e-mail encaminhado por Sophia. Ele não acreditava no que lia, mas a cada linha que se passava, notava que o projeto era sério. Ela realmente o convidara para participar de um filme, com todas as palavras, por mais mal-digitadas que estavam. Era apenas uma pequena participação, de coadjuvante, em um trabalho do colégio, segundo ela. Sentiu-se aliviado com o convite, mas estranhou ao ler um estranho pedido de Sophia. Para ela, Maria Eduarda jamais deveria saber do convite, ou de nada que pudera estar relacionado a ele. Com data e hora marcada, a filmagem ocorreria fora das dependências da escola, o que lhe deixara mais intrigado.

Ao mesmo tempo que Herón se desloca ao banheiro, Maria Eduarda está chegando em casa. Atirando a mochila com roupas sobre o sofá, sobe as escadas para ver a mãe. Entra no quarto e nota que ela ainda está dormindo sozinha. Percebendo que a porta para a varanda esta aberta, atravessa o quarto silenciosamente, para não acordá-la. Queria conversar com seu pai, já que ele estava mais sociável desde a manhã passada, mas vê apenas seu notebook aberto e a xícara de café sobre a mesa. Enquanto ele não chegava, Eduarda resolveu ver o que ele estava fazendo.

A garota sentiu seu ar faltar quando começou a ler o e-mail de sua amiga. Como eles conseguiram contato? Esta pergunta era a menor, se comparada a todas as outras interrogações que surgiam uma sobre a outra. Depois delas, surgiam as hipóteses. Maria Eduarda não era nada burra para unir os dois fatos e saber que Sophia traíra sua confiança, tentando fazer uma atitude de tal nível. Sim, Sophia transaria com seu pai e ainda filmaria o grande feito. Além da raiva pela traição iminente, algo muito mais terrível fazia o sangue de Maria Eduarda ferver: o desejo doentio pelo próprio pai.

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